terça-feira, 12 de agosto de 2014

Poema da Necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.


É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.


É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.


É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o fim do mundo.


Carlos Drummond de Andrade

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